sábado, 18 de março de 2017

BOB MARLEY: OS 10 MAIORES ÁLBUNS

De Soul Revolution (1971) a Uprising (1980), confira os discos mais importantes na carreira do rei do reggae

Muitos podem não saber, mas Bob Marley foi um artista pop bem sincrético. Sempre trafegando por referências suburbanas e negras, ele explorou o reggae como ninguém com ritmos como rock, funk, ska, rocksteady, jazz e até mesmo bossa nova (na “Pray For Me”, que foi descoberta postumamente). Cada um de seus álbuns representa uma distinta fase do músico: dos tempos difíceis na Jamaica junto com Peter Tosh e Bunny Wailer à honoris causa dos problemas sócio-raciais no continente africano, Bob universalizou o ritmo lutando contra o sistema, pregando a paz universal ou mesmo declarando seu amor pela vida.
Na lista, perceba que a fase mais criativa de Bob deu-se entre os anos de 1976 e 1980, período que dimensiona o quanto o músico e compositor evoluiu em tão pouco tempo. A seleção pode ser um pouco pessoal, obviamente, mas até que a considero justa.
E pra você? Qual o seu álbum favorito de Bob Marley?
10. Uprising
Ano de Lançamento: 1980

Gravadora: Island/Tuff Gong

Apesar de refletir o pesar dos últimos dias de Bob Marley, aqui o rei mostrou que ainda tinha muito para mostrar. Como já disse, ele correu atrás do tempo para ir se desvencilhando aos poucos das raízes regueiras e partir para experimentações no campo do afrobeat (“Could You Be Loved?”), funk (“Work”) e até mesmo letras mais profundas e densas, como “Comming In From The Cold”. Mas o grande mérito desse álbum fica para “Redemption Song”, não apenas por ser a famigerada ‘última canção do último álbum’, mas por denotar a maturidade filosófica do músico ao partir para algo mais poético.
Destaque: “Redemption Song”


9. Soul Revolution
Ano de Lançamento: 1971

Gravadora: Upsetter/Trojan

Quando dois dos maiores artistas jamaicanos se juntam, coisa boa tem que sair. Bob Marley e Lee ‘Scratch’ Perry ainda não tinham todo esse peso quando se uniram para fechar a produção desse disco, mas davam passos promissores para formatar a gênese do reggae (difundida por Bob) e do dub (de Lee). O produtor fez questão de ordenar uma espécie de ‘limpeza’ de instrumentos metálicos e sugeriu uma densidade instrumental mais pungente. Daí saíram alguns dos maiores hits de Bob, como “Sun is Shining”, “Kaya” e a praticamente desconhecida (mas excelente) “Duppy Conqueror”. Crueza pura!
Destaque: “Sun is Shining”


8. Natty Dread
Ano de Lançamento: 1974

Gravadora: Island/Tuff Gong

Esse disco foi um marco na carreira de Bob por ser o primeiro sem um integrante original do The Wailers (Peter Tosh e Bunny Wailer). Bob contratou as I-Threes para acompanhá-lo nessa bonita incursão a um reggae mais grooveado, cheio de energia e com muitas referências ao dub. Aqui, surgiu a primeira versão do seu maior hit radiofônico, “No Woman, No Cry”, além de contar com uma participação mais ativa dos instrumentistas (marcadamente os irmãos Barrett) nas composições. “Talkin’ Blues”, “Them Belly Full” e “Rebel Music” são algumas das faixas que não são da autoria do rei. Mas são tão boas, que soam como se fossem.
Destaque: “No Woman, No Cry”


7. Rastaman Vibration
Ano de Lançamento: 1976

Gravadora: Island/Tuff Gong

Gravado em uma das épocas mais frutíferas de Bob, Rastaman Vibration superou o obstáculo de ser apenas mais um disco à altura do seu já ótimo Natty Dread, que estourou internacionalmente em 1975. Bob focou no roots reggae, inclusive chegando a gravar uma canção que exalta essa incursão: “Roots Rock Reggae”, que se tornou um de seus maiores sucessos. Mas Bob tinha aquele folclórico compromisso de trazer canções reflexivas, lacuna que foi preenchida por clássicos como “Who the Cap Fit” (uma das minhas canções favoritas do rei) e “Cry To Me”.
Destaque: “Roots Rock Reggae”


6. Catch a Fire
Ano de Lançamento: 1973

Gravadora: Island/Tuff Gong

Registro fabuloso de um período onde a sinergia entre os Wailers resultava em faixas carregadas de visões políticas que iam direto ao combate – talvez por conta da fúria contida no processo de composição de Peter Tosh. Houve uma briga nos bastidores por conta da separação da nomenclatura Bob Marley e Wailers, motivado pelas ideias marqueteiras do influente produtor Chris Blackwell. Ainda assim, Tosh entregou algumas de suas melhores composições, com destaque para “400 Years”. E Bob já sugeria influências africanas em seu trabalho no compasso de “Concrete Jungle”.
Destaque: “Kinky Reggae”


5. Live!
Ano de Lançamento: 1975

Gravadora: Island/Tuff Gong

Taí o melhor registro ao vivo de Bob Marley. Pelo menos musicalmente. Gravado em uma apresentação no Teatro do Liceu em Londres, este disco foi responsável por cravar a universalidade não apenas do artista, mas do reggae como um todo. O rei apresentou suas canções de maior destaque gravadas até então, numa apresentação visceral. Iniciando com “Trenchtown Rock”, passando por hinos como “Lively Up Yourself” e “I Shot The Sheriff”, o show foi ovacionado pelo público e pela crítica, abrindo a brecha necessária para que Bob investisse em sua carreira internacional.
Destaque: “Trenchtown Rock”


4. Kaya
Ano de Lançamento: 1978

Gravadora: Island/Tuff Gong

Kaya é de longe álbum de estúdio mais pop de Bob Marley e contribuiu imensamente para a construção de sua imagem como compositor pop, revolucionário, musicalmente afinado. Ele adotou uma estética musicalmente suavizada com canções mais sentimentais como “Is This Love” e “She’s Gone”. Bob aproveitou para dar novos arranjos a faixas antigas, como “Sun is Shining”, “Kaya” e “Easy Skanking”. Durante o One Leave Peace Concert, que marcou seu retorno à Jamaica, Bob apresentou essa sua faceta mais tranquila e acalmou os ânimos em sua terra natal, que sofria com a repressão policial e inúmeras complicações políticas.
Destaque: “Is This Love”


3. Exodus
Ano de Lançamento: 1977

Gravadora: Island/Tuff Gong

1977 foi um ano turbulento para a música mundial, e não poderia ter um disco que melhor representasse a força do reggae nesse contexto do que Exodus. Bob criou um diálogo musical interessante com o punk rock da Inglaterra (“Punky Reggae Party”, que só foi lançada na versão de luxo), o groove universal de “Exodus”, a psicodelia de “The Heathen” e o roots meio pop de “Three Little Birds”, uma de suas canções mais conhecidas. Este disco marcou uma espécie de desprendimento de Bob às raízes jamaicanas. No ano anterior, Bob sofreu um atentado em sua terra natal que quase tirou sua vida. Há especulações de que a CIA ou mesmo o governo interino do país estariam envolvidos nessa tentativa de assassinato. Contudo, a mensagem ainda foi positivista. Afinal, como sugere a canção “So Much Things To Say”, ele ainda tinha muito o que dizer.
Destaque: “Natural Mystic”


2. Survival
Ano de Lançamento: 1979

Gravadora: Island/Tuff Gong

Já falei profundamente desse disco aqui. Afinal, não é exagero nenhum dizer que esse é o álbum mais importante de sua carreira, por expor sua faceta revolucionária e compromissada diante dos inúmeros problemas recorrentes na África. Não é para qualquer um tocar ‘Zimbabwe” no dia da Independência de um país que sofria com a colonização europeia e resumir de forma veemente os ‘causos’ do mundo com a aparentemente singela “So Much Trouble in the World”. Um tributo honroso à mãe-África, além de mostrar a potencialidade de Bob em contextualizar os problemas sociais do continente de forma universal.
Destaque: “Zimbabwe”


1. Burnin’
Ano de Lançamento: 1973

Gravadora: Island/Tuff Gong

Existe uma mística por trás desse disco. Foi o último registro em estúdio da banda original do The Wailers, com Peter e Bunny. Alguns singles foram remixados ou gravados novamente, como “Put It On” e “Duppy Conqueror”. Peter e Bob estavam com os nervos fervilhando não apenas pela difícil relação entre eles, mas também pela onda de repressão e violência que assolava a Jamaica. As letras são bélicas, chegando até mesmo a incitar a reação dos rastas que fossem submetidos às batidas policiais humilhantes (vide “I Shot The Sheriff”). Se um dia as minorias ou todos os rastas decidissem ir para a guerra, teriam que colocar esse disco no player. “Get Up, Stand Up” dá o gás inicial, “Burnin’ and Lootin’” fala diretamente que o reggae não tem nada a ver com as falsas conexões com o tráfico de drogas e “Small Axe” ilustra a assertividade ideológica dos Wailers. Por mais que soe como contraponto ao resumo da obra de Bob Marley, Burnin’ é a representação-mor da força das minorias. É um disco que vai além da estética musical ou da militância política. Burnin’ é, acima de tudo, um disco que consegue ambientar de forma perfeita essa necessidade de combater o establishment. Creio que essa é uma das maiores contribuições de Bob Marley para a cultura universal.
Destaque: “Small Axe”



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